Chapter 3 - Part 2/2


Chap. 3 - Part 2/2 
Por que eles e não eu?


Durante todo o tempo em que fiquei confinada naquele quarto branco e sem graça recebi visitas regulares de um psicólogo: um residente preocupado. E que sempre começava nossa conversa com a mesma pergunta imbecil, querendo saber como eu vinha lidando com a minha “perda profunda” ( palavras dele, não minhas), para depois tentar me convencer a subir para o quarto 618, onde rolavam sessões de aconselhamento pós-traumático.
Nem me pagando eu participaria de algo assim. Nem morta me juntaria a um bando de pessoas angustiadas, esperando minha vez de contar a história do pior dia da minha vida. Em que isso poderia ajudar? Por que eu me sentiria melhor só por confirmar algo que já sabia: que não só fui a única responsável pelo que acontecei à minha família, com também fui bastante estúpida, bastante egoísta e bastante preguiçosa para perder tempo, demorar e, adiar minha ida para a eternidade?
Sabine e eu não nos falamos muito durante o voo de Eugene para Laguna Beach. Fingi que estava quieta por causa da tristeza e das dores no corpo, mas pra falar a verdade, precisava apenas de um pouquinho de distância. Sabia do conflito de emoções que rolavam na cabeça da minha tia. Por um lado, ela queria desesperadamente tomar a atitude certa, por outro, não conseguia parar de se perguntar: Por que eu?
Quase nunca me pergunto isso. Em geral, penso: Por que eles e não eu?
Mas também não queria correr risco de magoar Sabine. Depois de tudo o que ela havia feito por mim, assumindo a minha tutela e providenciando uma casa legal para me receber, eu não podia deixar que ela nem sequer suspeitasse de que todo o trabalho e todas as boas intenções haviam sido em vão, e que não faria a menor diferença caso ela tivesse me abandonado num orfanato fedorento qualquer.
O caminho do aeroporto até a nova casa se resumiu a uma imagem borrada do sol, mar e areia. E quando Sabine me levou para o quarto no andar de cima, passei os olhos rapidamente pelo cômodo e disse alguma frase equivalente a um muito obrigada.
- Sinto muito por ter que te deixar aqui sozinha. – ela disse obviamente ansiosa para voltar ao organizado e seguro do trabalho, onde nada lembrava o mundo caído em pedaços de uma adolescente traumatizada.
E então logo ela saiu, eu me joguei na cama, coloquei o rosto entre as mãos e desabei de chorar.
(pode parar a música, se quiser.)
Até que alguém disse:
- Ah, tenha dó, olhe pra você! Por acaso já deu uma boa olhada neste lugar? Viu a TV de tela plana, a lareira, a banheira que faz bolhas? Hey!
- Achei que você não pudesse falar. – retruquei assim que virei o rosto e deparei  com Riley, que, aliás, usava um moletom rosa e um par de tênis dourados da Nike.
- Claro que posso falar, não seja ridícula. – ela disse, e revirou os olhos.
- Mas das outras vezes...
- Eu só estava zoando você, algum problema? – ela passeava pelo quarto enquanto falava, passando a mão sobre a minha escrivaninha, dedilhando o IPOD e o leptop novinhos em folha que Sabine havia deixado ali. – Mal posso acreditar que você agora tem tudo isso. Não é justo caramba! – ela exclamou com as mãos na cintura, as sobrancelhas franzidas – Pior, você não está nem aí! Quer dizer, você já viu essa varanda? Pelo menos pensou em dar uma olhada nessa vista?
- Não quero saber de vista nenhuma – eu disse, cruzando os braços diante do peito e fulminando minha irmã com o olhar. – Está difícil engolir essa de que você aprontou comigo, fingindo que não podia falar.
Riley simplesmente ri e disse:
- Deixa de drama, vai. – Ela atravessou o quarto, abriu as cortinas e tentou destrancar a porta de vidro que dava para a varanda.
- E onde é que descolou essas roupas? – perguntei, examinando-a da cabeça aos pés, ressuscitado nossa velha rotina de briguinhas bobas e mágoas intermináveis. – Porque, primeiro você aparece com as minhas coisas e, agora, está usando essas peças de marcas. Sei que mamãe nunca comprou um moletom da Juicy pra você.
Ela riu.
-  Por favor, como se eu ainda precisasse permissão da mamãe, quando posso simplesmente abrir o armário celestial e tirar de lá o que eu quiser. E sem pagar por nada! – acrescentou, esboçando um sorriso.
- Sério? – perguntei, meus olhos se arregalando e pensando que aquilo parecia um ótimo negócio.
Mas Riley não fez mais que balançar a cabeça e apontar para a varanda.
- Ande, venha dar uma olhada em sua nova vista.
Obedeci. Levantei-me da cama, enxuguei meus olhos com a manda da blusa e, passando direto por minha irmã, fui rumo à varanda com o seu piso de mármore, meu olhos arregalados, com o que vi diante de mim.
- por acaso isso é uma piada? – perguntei. A paisagem à minha frente era uma réplica exata do quadro com moldura dourada que Riley havia me mostrado no hospital.
Mas quando me virei para trás ela já havia partido.

2 comentários:

  1. Gente bela escrita autorinha ela e intensa e meia sobrea sabeee...rs
    tradução vc escreve divinamente...
    e só para vc não esquecer vai ter que me aturar kkk
    bju

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    1. PUTZ... me ferreu lkjhgfdsasdfghjmk... just kidding. brigadinha flor.(:

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