Ainda não eram dez horas, mas quando Demetria entrou no
quarto, Joseph já estava deitado, aparentemente dormindo. Ela hesitou. O abajur
ao lado da cama de casal estava aceso, mas a respiração dele era lenta e
regular.
—Joseph? — chamou em voz baixa.
Ele não respondeu.
Com um suspiro decepcionado, tirou a camisola da mala e foi
vesti-la no banheiro. Não imaginara a noite daquela maneira, e quando voltou ao
quarto, minutos depois, sentiu-se ridícula na camisola longa e insinuante.
Deitou-se ao lado dele e, resignada, apagou a luz. Agora
sabia o que era sentir prazer, e o desejo a incomodava como uma dor física.
— O que foi? Está sem sono? — ele perguntou, com voz
profunda. Apesar do susto, Demi conseguiu responder com tom calmo.
—Não sei... Acho que estou estranhando o fato de ter alguém
a meu lado na cama.
— Eu também havia me esquecido de como é dormir com alguém —
disse, puxando-a para mais perto. Ao encostar-se no corpo atlético, Demetria
percebeu que ele não estava usando pijama.
Sentindo sua reação, Joseph comentou:
— Você já me viu nu. Ainda está assustada, ou descobriu que
eu não sou o homem certo para você?
—Não é... o homem certo?
— Você passou o dia todo sorrindo para Kevin —disse,
acariciando seu corpo com mãos firmes.
— Joe, isso não é verdade! Gosto do Kevin, mas não tenho o
menor interesse nele.
— Eu não esperava que admitisse. De qualquer forma, não
posso culpá-la por nada. Eu arrumei toda essa confusão em que estamos metidos.
Confusão! Então ele
admitia que estava infeliz.
— Você disse que ia dar alguns telefonemas, e eu fui
procurá-lo no escritório — ela comentou com voz triste.
—Eu usei o aparelho do quarto para falar com Ashley.
Então era isso! Aquela mulher não desistiria com facilidade,
e se Joe não se importava em usar o telefone da casa da família para falar com
ela, só se porque pretendia acabar com o casamento na primeira oportunidade.
Joseph sentiu sua tensão e animou-se, pois aquele era o
primeiro sinal de que se importava com ele. Deus, se pelo menos fosse verdade.
—Não tem nada a dizer? — provocou.
—Estou com sono.
—E acha que vai conseguir dormir? — e afastou as cobertas,
beijando-a de
maneira inesperada e acariciando seu corpo com desejo.
Apesar da surpresa, Demetria descobriu que não tinha forças para resistir, e
nem vontade. Ele despiu-a com mãos experientes e passou a acariciá-la de
maneira mais íntima, despertando a paixão que conhecera pouco antes.
—Você ainda me quer? — Joseph perguntou num sussurro,
beijando a região sensível perto de sua orelha.
— Sim — ela murmurou, preparando-se para recebê-lo e gemendo
ao sentir que ele a possuía. O prazer era tão intenso, que teve de agarrar-se a
ele para não gritar. Ele despertava sensações intensas e profundas, e de
repente ela teve a impressão de que ia morrer em seus braços. Minutos depois,
assustada com a força do que acabara de experimentar, Demetria abraçou-o e
sentiu que lágrimas quentes rolavam de seus olhos. Joseph não podia ver seu
rosto, mas sentiu os soluços que a sacudiam e percebeu que ela o apertava com
força, como se estivesse profundamente perturbada.
—Não precisa ter medo — disse, tentando acalmá-la. — Desta
vez voamos alto demais, e precisamos de tempo para voltar ao chão.
—Eu estou... envergonhada.
Joe sorriu e afagou seus cabelos, guiando a mão trêmula para
que ela o tocasse.
— Por quê? — perguntou. — Nós somos casados! Por que está
tão tensa?
Entre beijos carinhosos e apaixonados, Joseph amou-a
novamente e ensinou a ela tudo o que precisava saber sobre o corpo de um homem.
A lição foi doce e lenta e, depois dela, feliz como uma criança protegida, Demetria
dormiu nos braços do marido. No dia seguinte voltaram para a fazenda. Joseph já
não demonstrava tensão, e demonstrou toda a felicidade que experimentava
durante o caminho. Mas no fim do dia voltou a mostrar-se preocupado, e não
convidou-a para dividir sua cama naquela noite. Durante os dias seguintes, tudo
voltou à rotina normal. Joseph mostrava-se amigo, quase carinhoso, mas não a
tocava ou beijava. Passava a maior parte do tempo observando a esposa com olhos
atentos, como se ainda não houvesse conseguido tomar uma decisão.
Certa manhã, quando tomavam café na cozinha, Eddie Lovato
perguntou:
—O que está acontecendo entre você e meu genro?
— Por quê? — ela perguntou, sabendo a que ele se referia.
Joseph não aparecia para a refeição matinal havia dias.
—Você e Joseph são casados, mas não se comportam como marido
e mulher, e andam preocupados e pensativos desde que voltaram de Jacobsville.
Por quê?
— Ele telefonou para Ashley — confidenciou com tristeza. —
Acho que está pensando em pedir o divórcio. Joseph não disse nada, mas sei que
está infeliz. — Querendo evitar perguntas mais pessoais, lembrou — Você não
tinha uma reunião em El Paso
às onze da manhã?
—Já estou indo. Disse divórcio? Por que não uma anulação?
Envergonhada, ela levantou-se e recolheu os pratos da mesa.
De costas, respondeu:
— Pelas razões óbvias.
— Se aconteceu, porque não estão morando juntos? Se o
problema é lugar, há uma casa vazia e mobiliada aqui mesmo na fazenda.
—O problema não é esse, papai!
— E qual é?
Demetria derrubou uma panela e o barulho os impediu de
escutar Joseph entrando pela porta da sala. Ao ouvir a voz carregada de Demi,
ele ficou quieto e não revelou-se.
— Vou dizer qual c o problema. Ele não me ama, nunca me
amou, e nem eu esperava que amasse, mas eu tinha esperanças de...
Eddie percebeu a depressão da filha e não a deixou terminar
a frase. Gentil, abraçou-a e esperou que chorasse até acalmar-se.
—Já disse a ele que o ama? — perguntou depois de alguns
minutos.
Joseph sentiu o corpo tenso com o choque da revelação.
—Não, nunca — Demi respondeu. — Nos casamos por acidente, e
eu sabia que ele jamais ia querer alguém gorda, caipira e desajeitada como eu.
Mesmo assim, sinto que meu amor cresce a cada dia. Oh, papai, o que vou fazer?
Pálido, Joseph finalmente reuniu coragem e entrou na
cozinha.
—Pode começar dizendo o que sente — sugeriu com voz
profunda.
Eddie soltou a filha e afastou-se:
—Estou atrasado — disse. — Vejo vocês depois do almoço.
Nenhum dos dois respondeu. Joseph a encarava de maneira
estranha, com uma expressão carregada que ela via através das lágrimas.
— Meu Deus! Por que não disse que estava ouvindo a conversa?
— perguntou desesperada.
— Por quê? — ele perguntou, aproximando-se e segurando suas
mãos frias e trêmulas. — Por favor, Demi, repita o que disse há pouco. Diga que
me ama!
—Pois bem, Joe! Eu amo você! Está satisfeito?
—Ainda não, mas acho que posso resolver o problema agora
mesmo...
E beijou-a com paixão. Haviam passado tanto tempo afastados!
Dias de conversa educada e impessoal, noites de solidão intensa durante as
quais ela ardera por estar naqueles braços! Recebendo com alegria o toque das
mãos em seus seios, abraçou-o e colou o corpo ao dele, demonstrando o quanto o
queria.
— Espere um minuto — disse Joseph, afastando-se para trancar
a porta. Em seguida, com uma urgência assustadora, a fez deitar-se no chão e
despiu-a rapidamente. Em seguida despiu-se e deitou-se sobre ela, possuindo-a
com um desejo selvagem.
—Desculpe — murmurou — mas não posso esperar.
—Nem eu — disse ela, beijando-o nos lábios. — Eu amo você, Joseph!
Muito, com todas as minhas forças...
—Também amo você, mais que a própria vida.
Os dois tremiam de maneira incontrolável, e o ritmo
alucinado que alcançavam era capaz de estremecer o céu e a terra. A explosão
foi violenta e assustadora, e Joseph não pode conter o riso quando, pouco
depois, mais controlado, viu a expressão assombrada no rosto da esposa.
— Acho que estávamos muito desesperados para pensar em
técnica — disse. — O que acha de subirmos e tentarmos novamente?
Ela riu, levantando-se para acompanhá-lo.
Horas mais tarde Demetria acordou nos braços dele.
— Joseph — chamou, despertando-o com carinho. — Precisamos
nos vestir. Papai pode chegar a qualquer momento.
Ele beijou-a delicadamente no rosto e respondeu:
—Eu tranquei a porta, lembra-se?
—Eu havia me esquecido — sorriu. — Joseph... Nick disse que
você estava com ciúmes de Kevin.
— E estava mesmo. Morro de ciúmes de Kevin, Henderson ou
qualquer outro homem que pudesse se aproximar de você. Todos esses anos juntos,
e eu nem sabia que a amava. Kevin percebeu no primeiro instante, e quando ele
me fez ver a verdade, entrei em pânico porque pensei que fosse tarde demais.
Você já havia entrado com o pedido de anulação. Mesmo quando nos amamos pela
primeira vez, naquele hotel, eu tinha certeza de que só queria satisfazer sua
curiosidade sexual.
— Amei você desde a primeira vez em que o vi — ela
confessou.
—Eu sentia a mesma coisa, mas precisei de mais tempo para
perceber. E até que isso acontecesse, disse coisas horríveis e sei que a magoei
muito. Espero que possa me perdoar. Precisei de muito tempo para superar a
morte de Taylor e nosso casamento desastroso, mas acho que consegui. Tinha de
estar inteiro novamente, ou não teria nada para lhe oferecer. Além do mais, a
idéia de assumir um novo compromisso me apavorava, e foi difícil vencer o
temor.
—Papai me disse tudo isso, mas eu não conseguia ser
otimista. Pensei que me odiasse. — Que absurdo! Como poderia odiá-la, se a
queria tanto? Odiava o desejo que me fazia arder durante a noite e lutava para
tirá-la da cabeça, mas não conseguia e me odiava ainda mais.
—Desejo não é o mesmo que amor.
—Eu sei, mas tem de admitir que já é um bom começo — riu,
beijando-a com carinho.
—Por que telefonou para Ashley?
—Sabia que ia perguntar. Kevin me contou que ela havia
ligado para levantar
suspeitas sobre a certidão, e eu telefonei para dizer que
meu casamento era legítimo e que amava minha esposa. Acho que ela nunca mais
vai nos incomodar.
—Foi por isso que Kevin me levou para passear pela fazenda.
Ele queria me prevenir sobre os ataques de Ashley.
—Que fofoqueiro! Ele não me contou que você sabia!
—Só consegui sentir um pouco de esperança quando Nick disse
que você estava com ciúmes.
—Como acha que me senti naquela noite, na casa de minha mãe?
Jamais vou me esquecer de como nos amamos naquele quarto!
— Nem eu. Joseph...
Ele estremeceu, reconhecendo o tom de voz. Puxou-a para mais
perto, colou o corpo ao dela e disse, fitando-a nos olhos:
—Eu também preciso de você. Outra vez...
Só conseguiram levantar da cama e vestir-se depois de uma
hora. Mais tarde, quando estavam sentados na sala tomando café e comendo torta
de maçã. Joseph riu e comentou:
—Vejam só a pobre garota caipira e envergonhada... Que cara
de pau!
—São as influências da companhia que arrumei recentemente
—ela riu. — E acho que temos um problema.
—Você está grávida? — perguntou esperançoso.
—Isso não é problema, é alegria. E talvez esteja mesmo, mas
ainda não posso saber. O problema é que estamos casados e eu não tenho sequer
uma aliança.
—Quem disse que não? — e retirou uma pequena caixa do bolso.
Demetria pegou a caixinha e abriu-a, deparando-se com uma
aliança de ouro e um lindo anel de diamante.
—Meu Deus! Você é maluco! Mas... e a sua? Não pense que vai
andar por aí sem uma aliança, Joseph Adam Jonas. Não quero essas aventureiras
do Texas invadindo meu território!
— Calma, Demi! Podemos ir a cidade para comprar uma aliança
para mim. O que acha?
A porta da sala abriu-se de repente e Eddie entrou.
Surpreso, parou no meio do caminho e exclamou:
— Meu Deus!
—O que foi, papai? Já notou minha aliança de casamento, não
é?
—Diga a ele que vamos nos mudar para a casa vazia ainda hoje
—disse Joseph.
—Papai, nós vamos...
— e parou, percebendo que havia algo errado. — Ei, o que está acontecendo com
você? Não está feliz? Joseph e eu nos entendemos, vamos morar juntos e você
finalmente vai ter os netos que tanto quer!
—É claro que estou feliz, filha — gemeu. — É que...
—0 que foi? Qual é o problema? — Joseph apressou.
—Fale de uma vez, papai!
—Droga! — Eddie explodiu, deixando-se cair na cadeira mais
próxima. — Vocês comeram minha torta de maçã!
Três semanas mais tarde, Demi levou três tortas de maçã para
o pai e aproveitou para dar a notícia maravilhosa de que seria avô. Quando Joseph
perguntou sobre o sogro, Demetria respondeu que não fora capaz de descobrir
qual dos presentes o deixara mais feliz.